quarta-feira, 3 de julho de 2013

" E agora José?"

Drummond sempre atual!!!

Fizemos uma analogia da Copa do Mundo de 70 e a de agora, Copa das Confederações da FIFA, ocorrida em Junho 2013, no momento em que o país "acorda" e vai para as ruas para se manifestar ante a corrupção e a má qualidade dos serviços prestados a população principalmente nas áreas da saúde, educação e transportes públicos, dentre outros.




Veja no Almanaque do "Projeto Memória" -Drummond, Testemunho da Experiência Humana- na pág 75: 

"Em 1970, houve uma campanha Ufanista, deflagrada pelo governo Militar, que visava a ligar futebol e a imagem de um Brasil vitorioso em todas as áreas. Após a conquista da copa do Mundo, o cartunista Jaguar lançou a seguinte imagem ligada ao texto 'José' de Drummond."



Este belo poema(também musicado)retrata bem toda a indignação que sentimos ao constatarmos que os gastos excessivos com a "festa", não incluiu as principais necessidades do povo brasileiro tão sofrido.  


              E agora, José?
              A festa acabou,
              a luz apagou,
              o povo sumiu,
              a noite esfriou,
              e agora, José?
              e agora, você?
              você que é sem nome,
              que zomba dos outros,
              você que faz versos,
              que ama, protesta?
              e agora, José?


              Está sem mulher,
              está sem discurso,
              está sem carinho,
              já não pode beber,
              já não pode fumar,
              cuspir já não pode,
              a noite esfriou,
              o dia não veio,
              o bonde não veio,
              o riso não veio
              não veio a utopia
              e tudo acabou
              e tudo fugiu
              e tudo mofou,
              e agora, José?


              E agora, José?
              Sua doce palavra,
              seu instante de febre,
              sua gula e jejum,
              sua biblioteca,
              sua lavra de ouro,
              seu terno de vidro,
              sua incoerência,
              seu ódio - e agora?

              Com a chave na mão
              quer abrir a porta,
              não existe porta;
              quer morrer no mar,
              mas o mar secou;
              quer ir para Minas,
              Minas não há mais.
              José, e agora?


              Se você gritasse,
              se você gemesse,
              se você tocasse
              a valsa vienense,
              se você dormisse,
              se você cansasse,
              se você morresse...
              Mas você não morre,
              você é duro, José!


              Sozinho no escuro
              qual bicho-do-mato,
              sem teogonia,
              sem parede nua
              para se encostar,
              sem cavalo preto
              que fuja a galope,
              você marcha, José!
              José, para onde? 

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